30 agosto 2003

Velho

Estou mais velho. Velho e cansado. Saturado e rabugento. Com o corpo que quer descanso, a exigir, descanso. A vista está cansada, eu sinto, desfocada. Não sei porque não vou ao oftalmologista. Talvez por vergonha de admitir a velhice, sim, esta velhice que já me marca. Forte e corrosiva. Saudades de tudo o que já vivi e não esqueço, mesmo que me entristeça. Mesmo que me deixe nada receptivo a outras pessoas, outras vidas, diferentes ou repetidas. Não me fecho no meu mundo sozinho, encerro-me fortemente nele, como uma fortaleza cheia de canhões pesados e uma profunda fossa de ácidos estranhos, corrosivo e de odores que se entranham entre a pele e os ossos.

00h29m. Ainda a trabalhar.

00h30m. E ainda a trabalhar.

00h31m. E ainda a trabalhar...

Na falta de sangue, limpo, sem qualquer doença, retirei o meu e tentei substitui-lo por álcool. Falhei. Ainda tenho o meu sangue, sujo, impróprio para consumo. Sempre que me corto, acidentalmente consciente, tento despejar o máximo de sangue. Nunca consigo.

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