26 junho 2007



Debaixo da luz cinzenta, reflexão do calor eléctrico, abraço o olhar da objectiva. Celebração das ideias marcadas por conceitos definidos sem consulta, sem o direito elementar de poder dizer, não, por ai não me convém. A frequência da radiação consegue preencher toda a estrutura plástica mecânica, até alcançar e atingir com vigor a sensibilidade comprada já enrolada no cartuxo. Queima. Mancha toda a superficie conforme a vontade externa à máquina. Fico registado naquele plano sem volume. Depois do abraço, o aconchego quase secular e materno do revelador. Fixado. Registado. Já sou dois. Eu em registo carne+água+sangue+carbono e o Eu em cristais de prata colados no plástico. Alguém me chama. Tac Tac Tac. O relógio não me deixa ouvir a minha leitura do livro. Tac Tac Tac Tac. O relógio tenta me disser qualquer coisa. Não o entendo. Azar. Que tente falar como todos nós. As palavras desenhadas no livro conseguem me livrar do tédio de estar à espera que o tempo passe. Mais uma imagem queimada nos critais de prata. A vida dos meus neurónios está caducada. Servem só para serem vistos dentro da grande cavidade ossária do pescoço.
Em Viseu, neva quando se quer o sol. Em Paris, a vida continua metódica e arrogante, pedantes. Em Berlim, o muro ainda está mais alto. Em Coimbra, calaram-se os gritos das guitarras, aceitaram, conformadas, que esta é a liberdade. Em Lisboa continua a chatice, acordar, trabalhar, comer, beber, cagar, foder, cuspir o resto do alcoól, cozer o açucar no sangue. Olham-me na rua, na carruagem do metro, tentando perceber ou julgando-me simplesmente. Palhaços! Cidade apertada, com as suas paredes saturadas e suadas a impedirem o desnvolvimento. Cidade que me queima, não são os cristais, deixando-me irritado. Largo redondo onde cabem todos os pés, virado para o Tejo a absorver o seu afastamento. Ampliação da luz cinzenta nos meus olhos. Não ocult............. Isto é engraçado! Acabei de morder a minha lingua. Que bom é o sabor do meu sangue! Tenho de beber mais, satisfazer-me mais.

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