18 fevereiro 2019

A VIAGEM DA VIRGEM ou VIRGIN'S TRIP - A primeira para breve e a segunda no já ido 2006

A VIAGEM DA VIRGEM ou na sua versão original VIRGIN'S TRIP, foi um álbum de BD da responsabilidade do Pepedelrey (argumento e desenho), Jorge Coelho (desenho), Rui Gamito (desenho), Rui Lacas (desenho) e do Sérgio Duque (design e animação). Com a cumplicidade do Pedro Vieira de Moura (tradução e prefácio), do Nuno Duarte (revisão e correcção do argumento), do Rui "Fred" Cunha (e músicos convidados, banda sonora original com 16 temas). A versão original era em inglês e brevemente sairá a versão portuguesa.




Copyright das imagens por ordem: Pepedelrey; Jorge Coelho; Rui Gamito; Rui Lacas


Texto do Pedro Vieira Moura publicado no seu lerbd.blogspot.com sobre esta BD:

Um dos mitos mais constantes nos círculos da banda desenhada é o do “autor completo”, isto é, de um autor individual que está na base da criação (e controlo) da “sua” obra, desenhando, escrevendo-a, etc. O primeiro problema desse mito está no facto de que este último “etc.” engloba várias actividades que permitem e levam à existência da própria obra (o seu suporte físico, pelo menos) e que não foram da responsabilidade do autor. O formato, por exemplo, de uma edição, pode alterar a percepção e fruição de uma obra (vejam-se as edições de Le Journal de mon pére de Taniguchi, ou as edições francesa e a norte-americana de L’Ascension de l’Haut-Mal de David B.) Outros pormenores são também fundamentais, e bastaria apontar a colorização dos álbuns em França, que não é feito pelos autores, e que muitas vezes faz ou não emergir importantes matizes de uma “personalidade” da obra final, como exemplo. O segundo problema desse mito é que parece servir de deíctico suficiente de qualidade. Ora, isso não é verdade. E seria ridículo tentarmos aqui apontar ou listar obras que nasceram de trabalhos de colaboração, quatro mãos ou de funções separadas, ou até mesmo de ateliers, e que atingem, de modo satisfatório ou de excelência, a mestria, a fluidez, a legibilidade, a arte, a completude, enfim.Serve isto como introdução ao presente livro pois parece-me não estar em erro que estamos perante um modo de produção que não é muito, se de todo, comum no nosso país. Fruto do trabalho de um atelier, mas sem com isso apontar a uma qualquer espécie de taylorização, este é um livro cuja força criativa, não obstante uma certa cadeia de eventos ou de razões, não recai sobre uma só pessoa. A história e conceito é de uma pessoa (Pepedelrey), que foi transformada na narrativa organizada por outra (Nuno Duarte), depois desenhada por quatro artistas (Pepedelrey, JCoelho, Rui Gamito e Rui Lacas), traduzida para inglês com algumas transformações textuais (eu próprio) e tudo apresentando num pacote de design “slick and smooth” (Sérgio Duque). E ainda existem projectos de animação e de música associados ao projecto. Mas todas estas etapas – tirando a tradução, claro – foram seguramente discutidas entre todos os intervenientes para chegar ao objecto final, que é o livro, que é o texto d’“A Viagem da Virgem”.Tratando-se de uma história que se encaixa segura e facilmente na “ficção científica”, está mais próxima de um trabalho adulto que se encontraria nas histórias curtas Metal Hurlant francesa que qualquer outro tipo de produção. A utilização de todos os elementos que fazem reconhecer esse “género” é, porém, para levar de imediato para outras paragens: estamos perante a discussão de dois companheiros, entre a obsessão de um deles por uma mulher, a qual, como alguém já disse, reescreve o conceito de “mulher-objecto”, e a busca do seu comparsa em entender essa obsessão transformando-a sua e pervertendo-a, não sem antes se repor a ordem desequilibrada. É admirável como a utilização de três artistas, de traços diversos mas que ganham alguma osmose por conviverem num mesmo espaço, e seguindo técnicas e efeitos de cor idênticos, se plasma com a história que está a ser contada, com as etapas dessa história, provocando um sentimento de estranheza, ou até de desconfiança, como diz David Kino, à entrada do livro. O formato oblongo, a vinheta por página (fora certas excepções inventivas), o amarelo-torrado e ocres contrastando com as escalas de cinzentos e os pretos brilhantes, as relações dos textos com os silêncios, e dos mesmos com os desenho, fazem de Virgin’s Trip um gesto algo inusitado neste país, sem preconceitos nem presunções, mas conseguido e que pode servir de lição a quem sofre de inércia... As várias exposições já tidas e a elaborar mostram também um interesse e um domínio existentes, ou nascentes. O facto de estar em inglês é uma estratégia comercial que espero ser de sucesso. Mas só o tempo o dirá, já que os esforços dos autores e editores são reais.

01 fevereiro 2019

The failed democracy







The Forgotten Revolution


Pepedelrey - Antologia Gráfica 1984-2018

Pepedelrey - Antologia Gráfica 1984-2018, editora Escorpião Azul, ainda tenho alguns exemplares assinados e autográfados (quem quiser dedicatória é só pedir) disponíveis para venda.

Mil obrigados aos editores e à família. Milhões de obrigados a Hugo Tiago, Leonor Pinela e Paulo Gonçalves, honra de ser vosso amigo.



 
O Pepe

Atualmente desempenho funções de ajudante autorizado de notário, e estava a trabalhar num cartório quando recebi o convite para escrever um texto sobre o Pepe.

Imaginem um tipo que, ainda adolescente, tenha estado numas festas com o Jim Morrison, e anos depois, prosseguindo uma carreira no ramo segurador, é convidado para escrever sobre o líder dos “The Doors”.

É que foi um pouco assim que eu me senti, perante a perspetiva de escrever sobre uma figura dionisíaca como é o Pepe. Ou seja: eu estava lá, e até li Aldous Huxley, mas agora sou um burocrata.

Mas não passou de um ataque de autocomiseração, que acabei por ultrapassar.

E, indo direito ao que interessa, pensei em resumir a coisa em duas frases curtas:

1)     O Pepe apresentou-me a obra de Ray Bradbury (Crónicas Marcianas, na coleção Caminho de Bolso);

2)     Razão pela qual estou profundamente agradecido.

Caso estas referências não representem grande coisa para vós, queridos leitores, “Ray Bradbury”, “Crónicas Marcianas” ou a “Coleção Caminho de Bolso”, não se preocupem.

Mas, por favor, depois de lerem este livro, leiam outros: estão a precisar de ler mais!  

Enfim, mas isto não diria grande coisa ao público em geral, mesmo explicando que o que quero dizer com isto é que o Pepe agarrou num miúdo inculto e inexperiente (e imberbe!) e mostrou-lhe que livros ler, que música ouvir e que filmes ver (a ante-estreia do “La Bamba” na Cinemateca é matéria para a mitologia urbana).

Ainda assim, talvez ajude se for explicado que a realidade dos anos 80 era um pouco diferente.

O êxodo rural dos anos 60, agravado com o contingente de retornados de 74/75, deixou a grande Lisboa cheia de jovens sem grandes referências sociais, num país pobre e pequenino. Caso não percebam de que é que estou a falar, faço notar que no final dos anos 70 deram-se tumultos graves no liceu de Oeiras, apenas porque era Carnaval.

Era difícil comprar discos, os filmes estreavam com meses de atraso, a imprense estrangeira vendia-se em Lisboa apenas em dois ou três pontos (Rua do Arsenal, Aeroporto e pouco mais).

Lembro-me de ver um debate na televisão sobre a violência no audiovisual, a propósito da estreia do Rocky IV e da apresentação do teledisco (sim, era assim que se designava) do “Undercover of the Night” dos Rolling Stones.

Por essa altura tínhamos o presidente da Camara de Lisboa a ameaçar com violência nas ruas se fosse estreado o último filme do Godard (Je Vous Salut, Marie!).

Era um país diferente para nós, que ainda pudemos conviver com o Carlos Paião e com o António Variações (alguém se lembra do António como personagem de Banda Desenhada?).

E neste panorama existia um farol de vitalidade artística, a António Arroio.

Escola de ensino artístico, por onde passou toda a gente que importa (é excessivo, eu sei, mas não se pode falar da António Arroio de outra maneira).

E eu tive o gosto de entrar na António Arroio com o Pepe (uma espécie boémia de irmão mais velho).

E de o acompanhar pelo Bairro Alto (Bartis), pela Tertúlia BD (Chico Carreira, no Parque Mayer) e pelo Clube Português de Banda Desenhada (em Benfica, na altura). Estava com ele quando estiveram cá autores como Bilal e Christin, J. C. Mezieres e Boucq.

Numa época em que os Capitão Fausto são confundidos com Fausto Bordalo Dias, importa dizer que não havia necessidade de tanto esquecimento, e para, em 40 anos, estas memórias e estas vivências não estarem a ser mais partilhadas e revisitadas.

E o Pepe é uma memória viva da cultura urbana da nossa cidade, que ainda não nos deu o melhor de que é capaz.

E queria terminar deixando aqui uma grande saudação a um homem que, mesmo sem conhecer o Lester, já assinava Del Rey muitos anos antes da Lana. 

Hugo Tiago




 “Estou farto desta terta toda!”, lê-se num auto retrato que o PepeDelRey fez num dos meus diários gráficos, durante uma exposição de banda desenhada no antigo Fórum Picoas. Este desenho, gralha incluída, para mim resume o Pepe: directo, franco, sem papas na língua, também sem se levar demasiado a sério.

Juntou-nos a António Arroio, o desenhar compulsivamente, o cinema, a banda desenhada. Nessa altura o Pepe já fazia banda desenhada, tinha um estilo definido, enquanto nós andávamos à procura da identidade, a experimentar materiais. O Pepe também experimentava, mas estava uns passos à nossa frente, e sabia tudo de BD!

Traço limpo, nem realista nem caricatural, reconheço sempre os desenhos do Pepe, os sujeitos e objectos representados, a sua personalidade molda-os num estilo gráfico próprio. As histórias põem-me alerta e fazem-me rir, fazem-me questionar o mundo ao nosso redor, espicaçam a imaginação.

A António Arroio, o desenho, o cinema e a banda desenhada ainda nos unem, é uma honra, Sr. Pepe!
 

Leonor Pinela




 
Pepe? Pedro?

Nao interessa o nome, ele divide-se em multiplas personalidades, é uma extensao daquilo que desenha e nao o inverso.

Se existe algo que sei do Pepe e dos anos em que partilhamos os minutos de muitos dias e incontaveis noites é que nao é possivel dar-lhe um rotulo, o Pepe apenas nao se encaixa em nada do que possamos pensar, essa e sem duvida a sua grande virtude, um constante do inconstante e observador atento daquilo que nao vemos.

O Pepe, O Pedro estara sempre do lado do mais fraco e descriminado, a sua obra e uma bandeira dessa sua luta intensa e silenciosa contra poderes instalados, demagogos e opressao em todas as suas formas, os falsos moralistas nao tem lugar na sua mesa.

O nosso caminho cruzou-se em 1986 na Escola de Artes Decorativas Antonio Arroio e a paixao comum pela Banda desenhada (e miudas giras) levou-nos a juntarmo-nos ao Clube Portugues de Banda Desenhada onde desenvolvemos inumeras accoes, com a montagem de exposicoes e a promocao da BD Nacional

O Pepe liderou a criacao de inumeros fanzines e trouxe novos talentos para se juntarem aquilo que queriamos que fosse uma revolucao da BD em Portugal.

Trabalhamos juntos em diversas empresas por onde passamos, desde fotografia publicitaria, a pos-producao video e audiovisuais, eramos inseparaveis.

Continuamos inseparaveis,
Um forte abraco do teu amigo
Paulo Goncalves (Batata)
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